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segunda-feira, 24 de março de 2014

Aulas de voo.



Aulas de voo.
Não tenho práticas em escrever cartas, não lembro se algum dia eu escrevi, mas vou me arriscar a procurar analogias que expressem que eu o vivo contigo.
Sinto que estamos vivendo um constante voar, que parece ser em direção ao céu de sorrisos estrelados, cintilantes como uma luminosidade que de tanta felicidade nos cega, mas poderia ser também um voar em queda. Um salto em queda livre, aquele que pensamos antes de nos tacar de um penhasco em direção ao  rio. Esse pensar preparatório para o voo, nós pensamos. Lembro-me, em nossas conversas no jardim da UERJ, como queríamos ter o mínimo e máximo de certeza que não ia ter uma pedra no fundo desse rio, sempre aquele friozinho na barriga, mesmo que a vontade fosse muito grande de se tacar sem pensar, isso pela beleza do rio e por saber que ia valer a pena o momento em que estávamos caindo em queda livre, viver aquela adrenalina, mesmo com todo o receio de cair de cara na pedra.
Esse momento de preparação para voo ainda acontece. Só que estamos nos preparando para saltar de pedras ainda mais altas, carregados com a energia de quem pulou anteriormente e quer  sentir mais a sensação de adrenalina que libera hormônio de felicidade por todo o corpo.
Quanto mais alta a pedra mais profundo é o mergulho no rio. E quanto mais profundo o mergulho mais possibilidades de pedras, ciúmes, dependências, sufocamentos. Isso tudo conta na preparação para o salto. Sempre avaliamos os riscos. Neste constante saltar, tivemos alguns arranhões superficiais que nos trouxeram aprendizados.
Sabemos que a adrenalina da paixão, nem sempre vai ser a nossa busca. Ela perde a graça à medida que as pedras altas não são tão mais altas para nós. No entanto, ao buscar o salto mais alto, procuramos estabelecer conscientemente outros objetivos. Objetivos para além do instante emocionante de queda livre, e sim, buscar algo que nos preencha na vida, que é o prazer de ser companheiro, de fazer as coisas juntos, de ter uma pessoa que esteja contigo nos instantes de aventura, mas também nas profundas desventuras da vida. De ter ao seu lado, uma pessoa que lhe fortaleça na sua sensibilidade e solidariedade com o mundo, que estimule a busca de saberes que nos ajudem a entender e intervir na construção de um mundo melhor.