Aulas de voo.
Não tenho práticas em escrever cartas, não lembro se algum
dia eu escrevi, mas vou me arriscar a procurar analogias que expressem que eu o
vivo contigo.
Sinto que estamos vivendo um constante voar, que parece ser
em direção ao céu de sorrisos estrelados, cintilantes como uma luminosidade que
de tanta felicidade nos cega, mas poderia ser também um voar em queda. Um salto
em queda livre, aquele que pensamos antes de nos tacar de um penhasco em
direção ao rio. Esse pensar preparatório
para o voo, nós pensamos. Lembro-me, em nossas conversas no jardim da UERJ,
como queríamos ter o mínimo e máximo de certeza que não ia ter uma pedra no
fundo desse rio, sempre aquele friozinho na barriga, mesmo que a vontade fosse
muito grande de se tacar sem pensar, isso pela beleza do rio e por saber que ia
valer a pena o momento em que estávamos caindo em queda livre, viver aquela
adrenalina, mesmo com todo o receio de cair de cara na pedra.
Esse momento de preparação para voo ainda acontece. Só que
estamos nos preparando para saltar de pedras ainda mais altas, carregados com a
energia de quem pulou anteriormente e quer sentir mais a sensação de adrenalina que libera
hormônio de felicidade por todo o corpo.
Quanto mais alta a pedra mais profundo é o mergulho no rio.
E quanto mais profundo o mergulho mais possibilidades de pedras, ciúmes,
dependências, sufocamentos. Isso tudo conta na preparação para o salto. Sempre
avaliamos os riscos. Neste constante saltar, tivemos alguns arranhões
superficiais que nos trouxeram aprendizados.
Sabemos que a adrenalina da paixão, nem sempre vai ser a nossa
busca. Ela perde a graça à medida que as pedras altas não são tão mais altas
para nós. No entanto, ao buscar o salto mais alto, procuramos estabelecer
conscientemente outros objetivos. Objetivos para além do instante emocionante
de queda livre, e sim, buscar algo que nos preencha na vida, que é o prazer de
ser companheiro, de fazer as coisas juntos, de ter uma pessoa que esteja
contigo nos instantes de aventura, mas também nas profundas desventuras da
vida. De ter ao seu lado, uma pessoa que lhe fortaleça na sua sensibilidade e
solidariedade com o mundo, que estimule a busca de saberes que nos ajudem a
entender e intervir na construção de um mundo melhor.
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