Para: Mim
Meu
amor, parabéns. Não parabéns por um certificado, você me conhece e sabe
o quanto pouco me importa os títulos. Mas no entanto esta postura não
excluiu a possibilidade de uma construção brilhante dentro deste
processo. Você sabe o tamanho de meu problema academia (teórico,
prático,politico, humano e emocional), como pra mim representa um
espaço hostil e opressor, aliás um espaço que é pensado para ser como
tal, com suas GRADES, DISCIPLINAS E AVALIAÇÕES...Conhecendo você como
mestrando (antes de nossa relação), eu te enxergava como um ponto fora
desta reta, desse caminho linear, que pouco se preocupa com o que está
ao redor desta estrada. Conhecendo seu trabalho eu fui quebrando as
minhas estigmatizações e aos poucos descobrindo que não era teoria
jogada ao vento, tinha sim um brutal acúmulo teórico, mas uma prática,
com sua militância, coerente com seu projeto politico (e ressalto que
por mais que tenhamos divergências, prática pra mim, significa também
tornar acessível essas discussões em espaços cotidianos). Pacientemente
com as suas atitudes você foi me mostrando a grandeza e importância que
pode existir em um trabalho acadêmico burocrático-teatral em nossa
formação tanto como possível profissionais, quanto como sujeitos
protagonistas destes processos históricos. Foi fantástico encontrar iem
seus trabalho significados nestas construções sociais simbólicas que
institucionalizam o conhecimento, nas minhas reflexões diárias, a
dissertação era sua, mas compartilhei de forma diferente é claro um
profundo aprendizado. Eu fico muito feliz de ter compartilhado esta reta
final cotidianamente contigo, com todas nossas crises e conflitos que
posteriormente acabaram sendo essenciais para repensarmos nossa
sensibilidade e solicitude, acho que passar por isso nos tornou ainda
mais companheiros, mais atenciosos um com o outro. Neste meio tempo
muita coisa aconteceu e vamos lá passamos alguns pequenos perrengues, e
digo isso no campo emocional principalmente, com todas as cobranças que
por sermos como somos não damos conta de sanar e com muito amor, muito
carinho, muita diversão e paciência íamos conseguindo transformar em
algo leve e isso nunca seria possível se não houvesse muito diálogo e
duras (mas doces) revisões de nossos erros. Sei que você tem passado
agora por processos muito enriquecedores, mas ao mesmo tempo
contraditórios e doloridos (haja tai chi) e você sabe como meus olhos
brilham de escutar sua vinda do trabalho, porque ele te transforma
diariamente como sujeito, mexe com todas as suas maiores convicções, te
pões dúvidas, atordoa sua cabeça, te desafia, te instiga, te traz novos
horizontes, formas de comunicação, de organização, nele você encontra
(sem romantismo) muito de perto as relações humanas, o sujeito que por
vezes passa batido em análises estruturalistas, mas ao mesmo tempo as
contradições escancaradas nesta realidade...e toda essa descoberta que
você abre o sorriso para contar e ficamos tempos com os pensamento
embraçados mostra o quanto você está feliz, mesmo com todo o peso que te
dói a coluna do status que carregamos. E eu vou me apaixonando e me
apaixonando e me encantando por sua luz de realizar, aprender, tocar
neste novo trabalho. Mas pois bem a vida é como o moinho do Cartola ou a
roda do Chico e você tem milhões de possibilidades, te confesso e isso
não é segredo pra gente que tenho muitos receios da DE-FORMAÇÃO
acadêmica, mas ao mesmo tempo e agora te conhecendo, como amigo,
companheiro, intelectual, em muitas esferas da sua vida, jamais
conseguiria por seu presente e pelo grande traçado de sua história que a
universidade sirva e que você reproduza mecanicamente todo esse
conhecimento, sei que você tem todas as condições do mundo pra sair (
não sem um esforço de auto critica constante) dos moldes, das caixinhas,
pra não perder os olhos nos olhos, os brilhos nos olhos de quem
acredita em uma transformação desta sociedade por outras vias que não
somente os quadrados brancos, com apagadores de sonhos, de idéias e de
experiências. Em síntese (pra em seguida virar tese) eu queria dizer que
tenho muito orgulho de você, em todos os sentidos, todos os dias, que
compreendo (pelo menos tento) suas particularidades, seu tempo, a
diversidade de caminhos que nos fazem seguir por uma linha diferente,
não normativa, que não supre as expectativas desta sociedade que
convenhamos não deve mesmo ser um exemplo pra nós, cada um desses
caminhos turvos é uma transformação que não deve jamais ser
descartada...se você é quem é hoje, foi por todo esse caminho torto
(como você) que foi te construindo e ainda tem muitos a serem escolhidos
e que eles sejam como as ondas das sua revolução. Eu fico profundamente
feliz de você ser esse ponto fora da estrada, porque se eu estivesse
nela seria para ser consecutivamente atropelada, só fora dela foi
possível a gente se encontrar. Eu vou te apoiar em cada escolha que você
fizer e faremos muitos planos, passaremos mais um tanto de perrengues,
entraremos em crise, eu morrerei de chorar após as minhas aulas e você
me ajudará a encontrar caminhos viáveis dentro dos meus traumas, você
desequilibrará para algum lado (porque é sempre preciso fazer escolhas) e
eu estarei de braços abertos para te pegar, vou ficar chorosa com
excesso de trabalho, enquanto você trata comigo meus complexos fúteis de
pequena burguesa, aí nós vamos levando, mas vamos levando de uma forma
esquisita, vamos levando na extremidade da felicidade, porque a
centralidade é coisa de mais pra gente. Te amo profundamente.